Ascenção, queda e renascimento

Ascenção, queda e renascimento das peregrinações a Santiago de Compostela ; os Anos de Júbilo
(Post escrito em 20/10/2018)
O auge do Caminho deu-se a partir do século 11 até o inicio do século 13. Neste período, chegou Santiago de Compostela a receber mais de 350.000 peregrinos por ano, um número bem maior que o atual.
A partir da metade do século 14, as peregrinações a Santiago começaram a cair no esquecimento. As doenças, como a peste negra, as reformas religiosas, o confisco dos bens imoveis da igreja pela monarquia (incluindo aí confisco de albergues de peregrinos), o aumento da criminalidade nos caminhos, a abertura dos caminhos a Jerusalem e Roma (com a queda do Imperio Otomano), e outros acontecimentos, fizeram que os Caminhos fossem lentamente esvaziados.
Em 25 de Julho de 1867 uma Missa do Peregrino registrou apenas 40 participantes,
Finalmente, em 1939, por ocasião do final da Guerra Civil Espanhola, o ditador Franco declarou que a vitória dos Nacionalistas deu-se graças a proteção de São Tiago. O ditador declarou o santo como patrono da Espanha, dando inicio a um “revival” às peregrinações. Nos anos 60, com o início da abertura da Espanha à Europa, começaram chegar os primeiros peregrinos, a maioria franceses.
O Papa João Paulo II visitou a tumba de Santiago em 1982 e em 1989, dando uma grande publicidade aos caminhos. Em 1987 a UNESCO declarou o Caminho Frances como Patrimônio da Humanidade, dando lhe mais um salto de popularidade.
Calixto II Santiago Campostela
Papa Calixto II (*1060 - 1124+), peregrino e grande divulgador dos caminhos.

Dois Anos de Júbilo de Santiago, 1993 e 1999 fizeram um grande “boom” ao Caminho Frances. É provável que em 1993 o governo espanhol deva ter feito uma grande campanha sobre o tema, com grande sucesso. Esses dois anos foram decisivos para o renascimento do Caminho.
Numero de peregrinos que chegaram a Santiago. Em 1993 e 1999 o governo da Espanha fez uma grande campanha publicitária, aproveitando o fato  de seram anos de júbilo, dando um grande “boom” nos Caminhos. Os anos 2004 e 2010 também de júbilos, tiveram grande número de peregrinos. A partir de 2011, o número disparou.

Na minha opinião, o grande responsável pela renascimento dos Caminhos foi a internet. Com a advento da banda larga, do WiFi, da popularização da www, pipocaram na rede, no mundo inteiro, relatos de peregrinos maravilhados com a experiência.. Aliado a isso, popularizaram-se as viagens aéreas internacionais, antes um artigo de extremo luxo. Pode-se dizer que o turismo global em geral foi beneficiado pela internet e pelo avanço e popularização das companhias aéreas.
Para se ter uma idéia, até o inicio dos anos 70, no Brasil uma viagem aérea era uma ocasião tão especial que as companhias aéreas exigiam do passageiro terno e gravata para embarcar.
Os anos de Júbilo.
Os Anos Sagrados Jacobinos, ou anos de Júbilo (em ingles: Holy Years, Jubilee Years),  são celebrados em todos os anos em que o dia 25 de julho cai num domingo. Este dia, 25 de julho, é o dia consagrado a São Tiago. Essa coincidência (25 de julho cair no domingo) acontece a cada 6, 5, 6 e 11 anos.
O primeiro Ano de Júbilo de Compostela foi 1126, estabelecido pelo Papa Calixto II (que tinha sido peregrino antes de ser papa). O papa não viveu este ano, tendo falecido antes, em 1124.
É bom evitar peregrinar nesses anos, pois o Caminho fica superlotado. 
Os últimos anos de júbilo foram : 1982, 1993, 1999, 2004, 2010. Os próximos anos de júbilo serão 2021, 2027, 2032 e 2038.
As indulgências
A indulgência  era o perdão dos pecados, concedida pelo Igreja Católica. Em geral, o perdão era concedido mediante o pagamento de certa quantia de dinheiro, e este perdão “cancelava” algum tipo de  pecado cometido. Por exemplo, se alguem tinha cometido adultério, pagava-se certa quantia à igreja, e estaria perdoado por esse pecado. 
Não demorou muito, e a indulgencia virou uma grande falcatrua, com a Igreja Católica perdendo controle sobre ela.
A indulgência foi o principal motivo da cisão da igreja, surgindo então os protestantes (Luteranos, Calvinistas, Anglicanos, etc). 
As indulgencias surgiram no século 13 e foram oficialmente extintas em  1487 pelo Papa Sisto IV.

Venda de Indulgencias 1521
Papa vendendo indulgencias, gravura de Lucas Cranach, 1521

A indulgencia plena aos peregrinos
A indulgência plena (de todos os pecados cometidos)  aos peregrinos foi estabelecida pelo Papa Calixto II, por ocasião da publicação do “Codex Calixteus”, e era concedida apenas nos anos de Júbilo de Compostela.
Para se obter a indulgência, o peregrino deveria fazer o sacramento da confissão,  fazer a comunhão na missa na Catedral de Compostela, e orar pelo Papa na Catedral. A confissão poderia ser feita em qualquer igreja, 15 dias antes ou depois da comunhão.
Esta concessão de indulgencia fez com que as peregrinações a Santiago de Compostela explodissem. Não é incorreto dizer então que na época, os peregrinos eram uma multidão de pecadores…

A indulgência foi extinta pela Igreja, mas a tradição de se comemorar os Anos de Júbilo de Compostela ainda continua.


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